O papel da vocação no acesso ao ensino superior
Pedro Almeida Maia, fundador da Segmétrica, explica de que forma a vocação e a consequente escolha do curso mais adequado contribui para a possibilidade de um futuro profissional bem sucedido — in jornal Açoriano Oriental, 19 de junho de 2024
Entre os mais de quatro milhares de cursos superiores que existem em Portugal, distribuídos por universidades e politécnicos de norte a sul do país - sem esquecer as ilhas - uma das maiores pressões que os jovens que se preparam para ingressar no ensino superior enfrentam passa por escolher "o" curso mais acertado.
Neste cenário entra, na grande maioria das vezes, a vocação de cada indivíduo, que embora seja "um construto complexo", conforme explica o Psicólogo Organizacional e do Trabalho, Pedro Almeida Maia, está presente naquela que pode ser "a decisão que mais condiciona o futuro" de alguém.
Porém, conforme adianta o fundador da empresa de consultoria Segmétrica, para além da vocação, a escolha do curso do ensino superior deve ter em conta "as perspetivas a longo prazo e, ainda, outros fatores psicológicos" e individuais que são avaliados nos processos de orientação.
Nesse sentido, Pedro Almeida Maia refere que é preferível que a escolha de um curso esteja "alinhada com os interesses, as aptidões e os conhecimentos" possuídos, embora isso "nem sempre" se concretize.
Como obstáculos, podem surgir expectativas irrealistas em relação ao futuro, que, em acréscimo, podem também existir pela "considerável importância" que os jovens atribuem aos pares, "por vezes fazendo pender a escolha de um curso para os mesmos destinos que os amigos".
Por estes motivos, e não só, acabam por ser aplicados testes vocacionais de forma a despistar as principais áreas de interesse dos indivíduos, para que estes possam fazer escolhas mais acertadas com impacto na sua vida profissional.
Segundo o fundador da Segmétrica, os testes vocacionais são "ferramentas que os psicólogos utilizam para auxiliar na identificação de interesses, aptidões e valores de um indivíduo" e que permitem que haja uma orientação "sobre possíveis carreiras e cursos", e tudo através de "perguntas e atividades gamificadas que avaliam a personalidade, a capacidade e as preferências" de cada um.
É com base nas respostas que se geram "perfis que sugerem áreas de estudo e profissões que podem ser compatíveis" com cada indivíduo, conjugados com outros fatores identifica-dos numa entrevista.
Estes resultados, explica ainda o Psicólogo Organizacional e do Trabalho, devem ser "vistos como um ponto de partida e não como uma resposta definitiva", sendo, por isso, importante associar o momento de avaliação com o devido aconselhamento profissional.
Vendo o cenário no seu todo, a vocação para a área escolhida aquando da entrada no ensino superior é importante para evitar "uma experiência académica insatisfatória", pois, com a falta de interesse o mais provável é que os jovens comecem por obter "resultados abaixo do esperado".
Esta insatisfação, realça, fará com que os estudantes possam acabar por sentir desmotivação na hora da "preparação para as avaliações", acabando por dar prioridade a outras atividades que não estejam relacionadas com o estudo.
A médio-longo prazo, o descontentamento ou a desmotivação perante o curso escolhido acaba também por se revelar na hora de escolher um emprego, explica Pedro Almeida Maia.
"Dos que concluem a formação superior neste contexto, a maioria aceita empregos medíocres ou pouco satisfatórios, por vezes nem sequer na área em que estudaram", referindo ainda que estas são, por norma, pessoas com baixa produtividade na sua área laboral, que podem ainda ver a sua saúde mental e bem-estar psicológicos afetados.
Embora as escolas na Região Autónoma dos Açores realizem orientação vocacional e aplicação destes testes, Pedro Almeida Maia refere que, "devido ao volume de trabalho dos psicólogos escolares e à estratégia atual" essas avaliações ocorrem no 9.º ano de escolaridade, ficando por realizar no ensino secundário, quando os jovens se aproximam do ingresso no ensino superior.
Em países com estratégias relacionadas com a educação "mais desenvolvidas", diz o psicólogo, a avaliação vocacional "começa no 6.º ano e repete-se anualmente", uma vez que está mais do que estudado que as inclinações vocacionais mudam à medida que amadurecemos".
No caso dos Açores, quer pela lacuna que existe no ensino público, quer pelo substancial aumento da diversidade existente na oferta de cursos e carreiras, "a procura por serviços de aconselhamento vocacional tem vindo a aumentar", tanto pela parte dos jovens, como pela parte dos "adultos que ambicionam mudar de profissão", conclui o fundador da Segmétrica.
in jornal Açoriano Oriental, 19 de junho de 2024